terça-feira, 23 de março de 2010

aula de História Regional

Enquanto não chega as apostilas, iniciamos o cursinho de 2010, com "História de Mato Grossso do Sul", a pedido dos próprios alunos.
Interpretação do Hino de Mato Grosso.

O hino e o guaicuru
1. PODER SIMBÓLICO: O HINO, O EPÔNIMO E O GENTÍLICO DE MATO GROSSO DO SUL. O hino oficial de Mato Grosso do Sul, mostra um Estado belo, formoso, esplêndido, grande, enorme, admirável, de uma beleza extraordinária, proporcionada pela natureza abundante de tuas terras, tem “o esplendor do Pantanal”, possuí também “um céu de puro azul”, constituídos por harmoniosos “rios ricos”, a terra apropriada para a agricultura, já que, “os celeiros de farturas” e “de fertilidade mil”, estão carregados, cheios, recheados de riquezas e opulências, texto que celebra o encanto da abundância da natureza, como que se fosse pertencente de todos os moradores de Mato Grosso do Sul e não apenas de alguns privilegiados fazendeiros que são os proprietários “da beleza” natural de tuas terras. A letra do hino é passada como um objetivo a ser aproveitado e não para ser alcançado. Mito, memória e identidade envolvem atividades de sentidos e de valores, portanto, de produção, de circulação e de consumo. São vitais à vida social e se constituem também como áreas de poder e de prestígio. Nesse sentido, o poder simbólico é imprescindível à vida social, por isso que é considerado como uma área de poder importante, mas, ao mesmo tempo é um espaço de confronto, de embates, de cotejo e de conflitos. Sobre a implantação de símbolos oficiais de Mato Grosso do Sul, no ano de 1978, houve concurso para a escolha da bandeira, do brasão e do hino do Estado por meio do governo que se instalava. O novo governo cria uma comissão que coordena a escolha da bandeira, do hino, do brasão, por meio de concursos. as letras inscritas no concurso para o Hino, não agradaram os organizadores do governo de Harry Amorim Costa, assim, a comissão determinou que contratassem compositores de prestígio e poetas reconhecidos no Rio de Janeiro. Dada a urgência da criação do Hino, não adianta trazer gente de fora para compor o hino, já que a solução era consultar os poetas do próprio Estado, “ter-se-ia repetido o acontecido com Osvaldo Cruz quando da epidemia de peste bubônica, na antiga capital.
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3. O hino oficial de Mato Grosso do Sul, mostra um Estado belo, formoso, esplêndido, grande, enorme, admirável, de uma beleza extraordinária, proporcionada pela natureza abundante de tuas terras, tem “o esplendor do Pantanal”, possuí também “um céu de puro azul”, constituídos por harmoniosos “rios ricos”, ou melhor, águas cheias de opulências, “que não há igual”, a terra apropriada para a agricultura, já que, “os celeiros de farturas” e “de fertilidade mil”, estão carregados, cheios, recheados de riquezas, com de depósitos em abastanças e opulências, texto que celebra o encanto da abundância da natureza, como que se fosse pertencente de todos os moradores de Mato Grosso do Sul e não apenas de alguns privilegiados fazendeiros que são os proprietários “da beleza” natural de tuas terras. O hino reforça uma imagem idílica sobre o Estado de Mato Grosso do Sul, uma vez que, “tuas matas e teus campos, /o esplendor do pantanal, /e teus rios são tão ricos, /que não há igual”, ou seja, a letra do hino descreve um ambiente campestre, suave e terno. Nesse sentido, os rios que compõem o Estado são algo incomparável de riquezas. A letra do hino também coloca uma visão edênica de Mato Grosso do Sul, comparando como o próprio Jardim do Éden; um lugar igualmente paradisíaco, pertencente ao paraíso terrestre, “um céu de puro azul”, algo como celeste, divino, admirável e gentil. O conteúdo do hino descreve o Estado de Mato Grosso do Sul, como lindo e rico, mas também como enorme, grandioso, majestoso, imponente e diferente. Fazendo parte grandes rios, lindo céu, a admirável auréola do Pantanal, composta de terra fértil, com uma abundância inigualável de recursos natural, por isso o Estado de MS é o orgulho e o futuro do Brasil. É necessário lembrar que a letra do Hino de Mato Grosso do Sul mostra as terras de farturas, as características naturais, mas não mencionam a destruição predatória dos espanhóis, portugueses e brasileiros, das extrações de madeiras, derrubando matas, poluindo os rios, extinguindo espécies de animais e vegetais, para atender demanda da economia de exportação mundial, com plantações em grande escala, mecanizada, em que se aplica grande quantidade de tóxicos nas lavouras, envenenando as águas dos rios e do aqüífero guarani. O hino também não cita os problemas da opressão das autoridades com as comunidades indígenas expulsa de suas terras, acabando com sua cultura e costumes, sem contar que a maioria da população sul-mato-grossense vive em miséria absoluta, moram em lugares degradantes nas cidades (principalmente, Campo Grande, Dourados, Ponta Porã, Corumbá, Três Lagoas, entre tantos outros municípios que compõe o Estado de MS). Com sérios problemas de “sem terra”, “sem teto”, “sem dignidade”, “sem emprego”,
4. 6 fazendo com que o Estado de MS ganhe destaque também em índice de miserabilidade, causado pela má distribuição de suas riquezas, já que estão concentradas em mãos de poucos, ou seja, só uma minoria que tem o privilégio de suas “farturas”. O herói de uma maneira geral, é uma figura simbólica, escalada para representar valores que inspirem a sociedade. No processo de criação de um herói, há uma dose alta de manipulação na qual a pessoa é aliviada das imperfeições humanas para funcionar como objeto de culto. A maioria das pessoas consideradas heróicas matou ou foi morta. As sociedades aceitam e estimulam esse ritual. Os heróis lembrados no Hino oficial de Mato Grosso do Sul, são os militares que defenderam o Brasil na Guerra do Paraguai ou defenderam as terras portuguesas e depois brasileiras, o índio recordado (Guaicuru) é o que ajudou os portugueses e brasileiros contra os invasores de suas terras, conhecidos como os índios cavaleiros, exímios assassinos de guerra, portanto, é importante observar que no Hino de MS, não são celebrados como heróis os gênios da arte, da ciência, grandes pensadores, estadistas, personalidades brilhantes que nunca estiveram metidos numa guerra. O hino de MS referencia os heróis de tanto grandeza: “Vespasiano, Camisão/E o tenente Antônio João, /Guaicuru, Ricardo Franco, /Glória e tradição”. O hino realça os heróis que lutaram na Guerra do Paraguai, Camisão e Antonio João, por isso, o reconhecimento deles como defensores das terras sul-mato-grossenses; Vespasiano Martins, como líder político sulista, foi prefeito de Campo Grande e senador, representante da porção sul de Mato Grosso; Ricardo Franco defensor do Forte Coimbra dos “inimigos espanhóis” em 1801; e os Guaicuru como representante das inúmeras comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, além de que os Guaicuru eram amigos dos portugueses e brasileiros. carências de heróis políticos sul-mato-grossenses, os heróis não são aceitos facilmente por todos. segundo o hino oficial de MS, compõe-se o Estado de Mato Grosso do Sul de pessoas: aguerridas, corajosas, destemidas, valentes, audaciosas, bravas, valentes, verdadeiros defensores da pátria, por isso, o reconhecimento dos Homens de
5. 7 Letras aos Heróis Militares que lutaram em defesa do solo O Estado “Futuro do Brasil” ainda permanece uma inspiração, porque o Estado de MS de “celeiros e farturas” e de “fertilidades mil”, não são aproveitados pela maioria de sua população. O hino valoriza o orgulho pelas belezas e riquezas das terras, dando uma noção de um paraíso terrestre em campos, matas e ricos rios, mostra como que se fosse algo que pertence a todos os moradores do Estado, o que não é verdade, já que as formosuras de tuas matas e de teus campos são propriedades de particulares “moldurados pelas serras/Campos grandes: Vacaria”, deste modo, a letra do hino é passada como um objetivo a ser aproveitado e não para ser alcançado. O Futuro do Brasil revelado por meio da letra do hino, mostra também uma ânsia em tornar-se o Estado de MS em uma grande potência brasileira. Mas as belezas de suas terras foram destruídas, repartidas em fazendas, esgotando grande parte dos recursos naturais, contrastando os belos campos, com a pobreza de sua maioria da população. O esplendor do Pantanal trouxe no seu bojo a perspectiva de expansão do turismo como nova fronteira econômica. Com mais de 200 mil quilômetros quadrados, estende-se fora do Brasil, pela Bolívia e Paraguai, formando nestes países a região do Chaco, palavra que em linguagem indígena quéchua significa “terra de caça”. Em território brasileiro, o Pantanal tem uma extensão de cerca de 140 mil km2, com 600 km no sentido Norte-Sul e em certos lugares 250 km de largura.
6. Segundo a historiadora Marisa Bittar, “o Pantanal, apesar do nome, não consiste em região pantanosa. Divide-se em três áreas distintas: uma sempre alagada; outra temporariamente alagada; e áreas a salvo das inundações. Pela enorme variedade de gramíneas, constitui-se no maior centro de criação de gado bovino do Brasil. Além disso, é o destaque paisagístico de Mato Grosso do Sul, ocupando quase um quarto de seu território. Apresenta paisagem única, portando flora e fauna de grande exuberância” (BITTAR, 1997, p. 259). É importante ressaltar, que são constituídos por propriedades particulares o Pantanal. Ou seja, não pertence a maioria da população, mas aos grandes latifundiários, fazendeiros, hoteleiros, comerciantes entre outros que exploram “o esplendor do Pantanal” economicamente para si e não para os demais moradores “pantaneiros” de Mato Grosso do Sul. grandes vaqueiros, tenho com muita clareza que não há maior originalidade em termos de Brasil. Sabemos todos que este sempre foi tido como o país dos coronéis e filhos bacharéis. Um ponto considerável a ser ponderado é que a letra do Hino oficial de Mato Grosso do Sul, continua sendo uma linha horizontal da história divulgada e publicada pelos homens de letras, como a Guerra do Paraguai, em especial, a Retirada da Laguna, uma vez que sempre rememoram em suas narrativas, Camisão e Antonio João, como verdadeiros heróis. os Guaicuru são visitados e lembrados tradicionalmente, em espaços especiais como: obras de artes, mídia, projetos, nomes de avenidas, livros e principalmente na história e na literatura. Ou seja, o passado lembrado no hino oficial de MS, continua ainda sendo escrita pelos homens de letras como um dever e uma missão a cumprir para a “cultura” do Estado de MS6. Assim, os antepassados sul-mato-grossenses idealizam-se como herdeiros de uma tradição de valentia e de audácia ao conquistar as terras e delas gerar farturas e riquezas em abundância. Não referenciando a miséria, a exploração econômica, a violência, a ignorância e a falta de atitude das autoridades constituídas de construir de fato uma sociedade com dignidade, especialmente aos índios e aos pobres residentes em Mato Grosso do Sul. A criação do hino de Mato Grosso do Sul, em que representa um Estado com uma imagem, com o argumento de enormidade, de beleza, de riqueza, paradisíaco, paraíso terrestre e de muita abastança em tuas terras, celebrando os heróis do Estado de MS, dos quais tentam inculcar uma imagem positiva de MS contribuições dignas de menção, se bem que não possamos alinhá-las com as obras dos autores nacionais de nomeada reputação. Salvo se colocarmos, o nome de um dos maiores romancistas da língua portuguesa, que, embora não tendo nascido nesta região, a ela pertence de coração, porque a conheceu e a amou: o Visconde de Taunay. O primoroso romance “Inocência” desenrola-se em nosso território, seus personagens são bem mato-grossenses do Sul, as paisagens, as fazendas, os rios, o ermo sertão de Camapuã e Santana de Paranaíba constituem telas representativas de nosso passado. Pena que o talentoso autor da “Retirada da Laguna” não tenha escrito um romance da época da Guerra do Paraguai, no livro de Visconde de Taunay, Céus e Terras do Brasil, “acha-se a célebre descrição do rio Aquidauana, através da qual muito se acentua a afeição do povo sul-mato-grossense para com o Visconde de Taunay. Na verdade, de outro modo não poderia ser, porque o autor de “Inocência” considerou o confluente do Miranda como um dos rios mais formosos do mundo. (...) Em “Céus e Terras do Brasil”, Taunay descreve magníficas cenas de nossa natureza, embevecido pelo seu esplendor selvático, detendo-se maravilhado ante o cenário virgem dos campos e sertões.. Participando da Expedição de Mato Grosso, na Guerra da Tríplice Aliança, Taunay escreveu “A Retirada da Laguna”, dramático relato dos sofrimentos da coluna enviada para invadir o Paraguai pelo sul de Mato Grosso, destacando-se a epopéia do “recuo efetuado desde a Laguna, a três e meia léguas do rio Apa, fronteira do Paraguai, até o rio Aquidauana, em território brasileiro, trinta e nove léguas, ao todo, percorridas em trinta e cinco dias de dolorosa recordação”
(Resumo Document Transcript)

1. PODER SIMBÓLICO: O HINO, O EPÔNIMO E O GENTÍLICO DE MATO GROSSO DO SUL.
# REFERÊNCIAS: BARROS, Abílio Leite de. Por que todo fazendeiro do Pantanal é doutor?. Revista da Academia Sul- Mato-Grossense de Letras - n.° 7 – março de 2005. p. 58-60. BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul: do Estado sonhado ao Estado construído (1892-1997). 2v. Tese (Doutorado em História) – FFLCH/USP, São Paulo. CAMPESTRINI, Hildebrando & GUIMARÃES, Acyr Vaz. História de Mato Grosso do Sul. 5.ª ed. Campo Grande: IHG-MS, 2002.
# 17 CAMPESTRINI, Hildebrando. Questões gramaticais sul-mato-grossenses. Campo Grande: IHG-MS e Prefeitura Municipal de Campo Grande, 2003. DOMINGOS, Gilson Lima. A Memória e História no Pantanal Sul-mato-grossense. UFMS/Câmpus de Dourados. Setembro de 2005. 09 p. [Mimeo]. CEBALHO, Mariano. Guaicuru um símbolo. In: GOMES, Otávio Gonçalves. A poesia de Mato Grosso do Sul. Brasília: Resenha Tributária. 1983. GOMES, Otávio Gonçalves. HINO DO MATO GROSSO DO SUL. Acesso em, 25/05/2005. http://www.acletrasms.com.br. GUIMARÃES, Acyr Vaz. Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica. Campo Grande, MS: Editora UCDB, 1999. PONTES, José Couto Vieira. História da Literatura Sul-Mato-grossense. São Paulo : Editora do Escritor. 1981. PRADO, Francisco Rodrigues do. Os Guaicuru. Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. n. 8 – junho de 2005. p. 91-92. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro - a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. ROSA. Pedro Ângelo da. Resenha Histórica de Mato Grosso (Fronteira com o Paraguai). Campo Grande: IHG-MS. 2004. RODRIGUES, José Barbosa. História de Mato do Grosso do Sul. São Paulo: Editora do Escritor, 1985. SALDANHA, Athamaril. História e Estórias da Revolução de 1932 em Mato Grosso do Sul. Campo Grande, IHG-MS, 2004. ZILIANE. José Carlos. Tentativas de construção identitárias em mato grosso do sul (1977-2000). Dourados-UFMS: Dissertação de Mestrado. 2000.

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